LITERATURA
& CARNAVAL, CARNAVAL & LITERATURA: A VIDA ENTRE CONFETES E SERPENTINAS.
Castúlio do Amaral
Neto
Historiador e
componente da escola de samba X-9 Paulistana
A literatura e seus grandes
autores já foram enredos de belíssimos desfiles no Rio de Janeiro, tais como
Lima Barreto na Unidos da Tijuca em 1982, Chico Buarque na Mangueira em 1998,
Machado de Assis na Mocidade Independente em 2009, João do Rio no Império
Serrano em 2010. Em São Paulo, para citar apenas os desfiles deste ano provando
a grande influência da literatura no carnaval: Mario de Andrade e o modernismo
no desfile da X-9 Paulistana, Machado de Assis e Cruz e Souza na festa da
negritude promovida pela Nenê de Vila Matilde e Jorge Amado na grande campeã
Mocidade Alegre.
Mas estes autores
homenageados no carnaval do Rio de Janeiro não foram citados aleatoriamente e sim
por estarem presentes na coletânea BRASIL, MOSTRA A SUA MÁSCARA publicado em
2007 e organizado por Fred Góes, professor de Letras da UFRJ e pesquisador do
NIEC - Núcleo Interdisciplinar de Estudos Carnavalescos e da qual pretendo
escrever algumas palavras.
O livro possui o mérito de
reunir contos, crônicas e letras de músicas de diversas épocas (desde o século
XIX até o presente) que abordam o carnaval em suas múltiplas facetas por
autores como Chico Buarque, Coelho Neto, Machado de Assis, João do Rio, João
Ubaldo Ribeiro, José de Alencar, Lima Barreto, Lygia Fagundes Telles, Lúcio
Cardoso, Luis Fernando Veríssimo, Olavo Bilac, Raul Pompéia, Zuenir Ventura, entre outros.
Os temas também são vários,
desde os de estranhamento com os festejos carnavalescos até aqueles de
participação e reflexões sobre a festa. Ora como assunto principal, ora como
cenário de dramas e situações cotidianas, o livro é dividido em nove partes
(Fora de mim o carnaval, o carnaval fora de mim; Donísios na Guanabara; Lei é o
malido da lainha; Podes sair razão, podes entrar maluquice; Quem não chora não
mama; Saiba morrer o que viver não soube; Meu coração tem mania de amor; Os
glutões do prazer; e Me engana que eu gosto) conseguindo dar uma ampla visão
sobre o carnaval.
Das festas de entrudo,
bailes de máscaras e fantasias, desfiles das sociedades carnavalescas até os
desfiles atuais das escolas de samba, o livro é também uma aula de História de
como seus contemporâneos viveram e vivenciaram as mudanças por quais passaram
esta festa: Perseguições policiais, nostalgia, encontros e desencontros,
amores, ciúmes, morte, alegria, enfim, a vida desfilando entre confetes e
serpentinas.
Como o próprio autor do
livro afirma, não pretendeu utilizar todos os textos sobre carnaval nem esgotar
o assunto e o que realmente acabamos por sentir falta são de trabalhos que
tratem e façam referência à nossa festa paulistana. Quer seja pela ausência efetiva deles ou da
intenção do autor concentrar seu objeto de estudo no Rio de Janeiro, é preciso
termos em conta que nossa festa é feita cotidianamente no amor que temos por
nossas escolas de samba e ao samba. E assim é que novas histórias vão surgindo
a cada ensaio, a cada desfile, em emoções das mais variadas tecendo um mosaico,
uma antologia de nosso carnaval paulistano.
A todos os sambistas, dedico
este fragmento de um dos textos da coletânea de autoria de Olavo Bilac que mesmo
fazendo clara referência aos foliões cariocas, diz muito do que vivemos e
vivenciamos durante todo o ano, toda a vida, em todos os lugares:
“São uma gente à parte -
quase uma raça distinta das outras. Os que amam o carnaval, como amam todas as
outras festas, não são dignos do nome de carnavalescos. O carnavalesco é um
homem que nasceu para o carnaval, que vive para o carnaval, que conta os anos
de vida pelos carnavais que tem atravessado, e que, na hora da morte, só tem
uma tristeza: a de sair da vida sem gozar os carnavais incontáveis que inda se
hão de suceder...".
E que assim continuemos
escrevendo e vivendo crônicas, memórias e histórias de nosso carnaval!
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